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Como poupar ao longo do tempo para comprar habitação ou preparar a sua reforma?

20.01.2022
Imobiliário

Carro, casa, reforma, férias e outras despesas não correntes: como não ter surpresas.

Agora que já sabe como fazer um orçamento doméstico e que também já conhece algumas aplicações que o podem ajudar a gerir o seu dinheiro, chegou a altura de perceber o que pode fazer para poupar para grandes despesas.

Estes desembolsos podem ter um prazo longo como tirar umas férias de sonho, comprar um automóvel ou uma casa, fazer obras. Além de, naturalmente, preparar a sua reforma. A solução é fazer o seu dinheiro multiplicar-se.

Há ainda outras despesas mais pequenas, que surgem anualmente ou noutra periodicidade que convém planear com antecedência, especialmente se não tem um ordenado fixo. É o caso dos seguros de Vida e Multirriscos Habitação, quando não são pagos mensalmente, o IVA trimestralmente no caso dos trabalhadores independentes ou o IRS caso entre o deve e o haver tenha de pagar.

Quando e como poupar?

Quando começar a poupar para as grandes despesas? Já.

Quer tenha 20, 30, 40 ou mais anos se ainda não iniciou a sua poupança, prepare-se.

Antes de mais, tome nota de uma regra básica das finanças pessoais: pague-se a si próprio antes de pagar aos outros. Ou seja, coloque nas suas poupanças o valor orçamentado logo que recebe o seu ordenado. Não guarde para o final do mês pensando que “o que sobrar vai para a poupança”. Tipicamente, não resulta.

Quais são as principais grandes despesas

As principais grandes despesas que poderá ter no futuro serão provavelmente preparar-se para a reforma, comprar casa ou carro ou até tirar férias de sonho.

Pode optar por poupar ou investir – não necessariamente em produtos de risco, mas sim em investimento com riscos reduzidos ou nulos.

Como calcular quanto precisa para a reforma

Falte muito ou falte pouco para a reforma é preciso começar a preparar os últimos anos da sua vida desde já. Atenção que a idade da reforma está a subir a cada ano que passa devido ao aumento da esperança média de vida. De acordo com a OCDE, em Portugal, elevar-se-á para os 66,42 anos em 2021 e deverá atingir os 68,37 anos em 2050. Além disso, o valor da reforma será sempre mais baixo que o salário auferido por cada um.

Os planos Poupança Reforma (PPR) são uma das opções que tem ao seu dispor. Alguns autores não o recomendam pois deixou de ser possível deduzir parte do investimento no IRS. No entanto, se o PPR tiver alguns anos irá pagar uma taxa liberatória mais reduzida do que num depósito a prazo normal. Mas, há mais, a mobilização tem custos relativamente elevados, e se resgatar antes do prazo terminar terá de devolver os possíveis benefícios fiscais e/ou pagar comissão de resgate.

A alternativa são depósitos a prazo. Mas, atenção: os juros estão muito baixos neste momento, abaixo da inflação e, por vezes, são mesmo zero.

Comece por calcular quanto precisa. Se aufere hoje um salário de 1000 euros mensais, o seu salário anual será de 12 mil euros. Se antecipa viver 20 anos depois da idade da reforma (algo que não pode saber de antemão), irá precisar de 240 mil euros. Optando por um cenário em que o estado apenas lhe atribui 120 mil euros nesse período (500 euros por mês ou 50% do que aufere hoje), será conveniente encontrar forma de poupar a metade do dinheiro em falta.

A conta a 12 meses e não 14 deve-se ao facto de nada garantir que dentro de 20 ou 40 anos ainda existam subsídios de férias e Natal.

Autores dizem que deve poupar entre 10% e 15% na casa dos 20 anos, 15% a 20% na casa dos 30 anos. A partir dos 40, haverá duas hipóteses. Se já poupa há algum tempo poderá manter a percentagem de poupança. Se, por outro lado, vai começar agora deve optar por 20 a 30% do seu rendimento.

Poupar para a entrada de uma casa

Há despesas que só mesmo recorrendo ao crédito é possível fazer, como é o caso de comprar uma casa. Mas, atenção, os bancos não emprestam a totalidade do valor da casa que vai comprar. Por isso, se pretende recorrer ao crédito à habitação poderá vender algum bem que já tenha ou, quem sabe, utilizar o valor de alguma herança que recebeu.

Mas, o mais comum, é precisar juntar o dinheiro para o chamado “sinal”. Recorde-se ainda que, além do valor da casa propriamente dita, terá ainda de contar com outros montantes que serão despendidos nessa altura, como explicámos anteriormente, nomeadamente impostos e custos com a escritura.

Os bancos emprestam até cerca de 90% do valor do imóvel: o menor de um destes dois: avaliação ou valor de compra. Números redondos e sem contar com as despesas adicionais relacionadas com o crédito, se a casa valer 90 mil e a comprar por 100 mil, atenção que o banco irá apenas emprestar 81 mil euros.

Tome ainda atenção à taxa de esforço, para não comprometer o equilíbrio do seu orçamento. Diferentes autores apontam para que a taxa de esforço seja inferior a 50% do seu rendimento mensal líquido.

Recomendação: poupe como faz para a sua reforma.

E se quer comprar um carro ou fazer umas férias? Como deve poupar?

Precisará sempre de estabelecer metas, para poder atingi-las, quer seja comprar um carro ou fazer umas férias de sonho. Poderá ser razoável não fazer estas despesas em simultâneo. Tenha em conta que o dinheiro se multiplica quando bem aplicado.

Vejamos o exemplo, se o seu objetivo é comprar um carro de 12.000 euros dentro de cinco anos, se aplicar 200 euros por mês ao longo de cinco anos terá mais que esse valor. Terá 12.609, 47 euros a uma taxa de juro efetiva de 2% (antes da retenção na fonte), segundo Paulo Pereira no livro No Poupar é que Está o Ganho.

A título de comparação se pretender, pelo contrário, comprar o carro a crédito, e assumindo a mesma taxa, irá precisar de 13.260,95 euros, porque as prestações serão de 221,02 euros, antes de imposto de selo sobre os juros, imposto de selo por utilização de crédito e outras despesas de abertura de crédito.

Com algumas nuances, aplica-se a mesma lógica ao planeamento de umas férias ou de umas obras em casa. Convém sempre poupar antes de ir, em lugar de pedir um crédito para concretizar esse sonho.

Atenção à rentabilidade e ao risco!

Quando investe deve ter em conta quer o risco quer a rentabilidade. Ainda segundo o mesmo autor, a rentabilidade é o montante que se ganha com um investimento. Se investir 100 euros e receber 102 euros, então a rentabilidade é de 2%.  Quanto mais elevado o risco, mais elevada será também a rentabilidade se tudo correr de feição. No entanto, pode ter uma rentabilidade mais baixa ou até mesmo perder dinheiro em alguns casos. O segredo neste caso é não colocar os ovos no mesmo cesto. Isto é, aplicar o dinheiro em diferentes aplicações, minimizando o risco de perder dinheiro.

Os depósitos a prazo são indicados para quem é avesso ao risco. Poderá ganhar menos que ao investir com risco, mas neste caso não irá perder o valor investido. No entanto, neste momento poderá não ser uma boa opção devido às reduzidas taxas de juro.

Mas as opções não ficam por aqui. Poderá optar por certificados de aforro ou de tesouro. O risco é reduzido, mas atualmente a rentabilidade é também muito baixa. Voltaremos ao tema num próximo artigo, mas tome nota: há ainda empréstimos obrigacionistas, fundos de investimento. Nestes casos o risco poderá ser mais elevado, mas depende de vários fatores e pode encontrar soluções mais avessas ao risco.

Finalmente pode optar pelas ações (parcelas do capital de uma empresa). Este tipo de investimento tem um risco elevado devido à volatilidade do mercado, mas se o seu objetivo é investir a longo prazo existem probabilidade de obter rentabilidades elevadas. Uma das empresas que trabalha com investimentos a longo prazo é a Casa de Investimentos que, através da análise do histórico das empresas consegue antecipar com um grau de certeza elevado, quanto poderá valer a sua carteira dentro de 10 ou mais anos. Tome nota que independentemente do valor que a sua carteira atinja hoje, só interessa de facto o valor que terá no momento da venda. O objetivo final é comprar barato para vender caro.

A técnica dos mealheiros

Se as despesas são regulares, embora anuais, pode utilizar a técnica que provavelmente a sua avó utilizava: a técnica dos envelopes para tratar das despesas correntes e não recorrentes, colocando regularmente dinheiro em cada um dos envelopes. Atualmente, algumas entidades bancárias têm à sua disposição opções que lhe permitem atingir o mesmo objetivo dos envelopes/mealheiros para o ajudar a concretizar as suas poupanças, com taxas de juro baixas.

Este é o método ideal para juntar dinheiro para aquelas despesas que surgem regularmente e que estão previamente previstas. Vai depender de família para família, mas é o caso dos livros e material escolar no início do ano letivo, de uma consulta de especialidade, das inscrições em ginásios e similares, dos seguros de Vida e Multirriscos Habitação, do IVA para trabalhadores independentes ou do IRS caso entre o deve e o haver tenha de pagar.

Se conseguir encontrar aplicações de curto prazo pode ganhar juros, ainda que relativamente baixos, mas ao menos assegura que tem o dinheiro salvaguardado.

Com este artigo ficou a conhecer algumas técnicas e soluções para poupar/investir a curto e longo prazo, beneficiando sempre que possível de rentabilidades. Boas poupanças!

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